MUNDARÉU



O projeto é resultado da adaptação das obras de Plínio Marcos, Abajur Lilás, escrita em 1969 e o romance Querô, Uma Reportagem Maldita, escrito em 1976 e adaptado para o palco três anos depois. O grupo, dirigido por Alice Stefânia, trabalhou em um processo de construção e experimentação, a partir de princípios da pesquisa cênica que vem sendo desenvolvida pelo grupo Poéticas do Corpo, coordenado pela própria diretora e vinculado à UnB e ao CNPq. Investigamos procedimentos de criação de dramaturgias de ator, inspirados no Teatro Físico, na Dança-teatro, na Arte da Performance e em outras modalidades nas quais o corpo surja como eixo privilegiado de composição cênica.Com estreia em maio de 2014, na cidade de Brasília – DF, o espetáculo foi contemplado com o Fundo de Apoio à Cultura – FAC, esteve no 15º Festival Internacional de Teatro Cena Contemporânea e em outubro foi convidado para Ocupação Funarte BR-040, onde foi apresentado na Sala Plínio Marcos.



As obras originárias se desenvolvem em um crescente de violência, relações de poder, humilhações e vinganças, sem pensar em meios e consequências. As personagens são marcadas por desamor, perversidade e pela luta por sobrevivência. Os diálogos, em tons crus e sombrios, desfiam histórias da vida de figuras marginalizadas e invisibilizadas socialmente. Buscamos preservar aspectos da poética crítica do dramaturgo, “o profeta do apocalipse atual”, como diz Ilka Zanotto, em sua ácida representação do submundo nacional. 

O espetáculo é o retrato da gigante minoria, dos grãos de areia que são os farelos de vida de tantas pessoas. Pessoas-estatística, pessoas-raiva. Na peça adaptada por Alexandre Ribondi, o menor Querô agoniza uma história de abandono, maus tratos e desesperança, coroados por dois tiros da polícia. Por sua vez, Dilma, sua mãe, amarga saudades e culpa em relação ao filho enquanto acumula um rol de agressões e humilhações, comuns ao universo da prostituição. A narrativa se constrói em distintos planos temporais e espaciais, que se atravessam mutuamente e se redimensionam no jogo cênico. A adaptação procurou manter o tom rascante de Plínio, o qual escancara a face cinzenta e dolorosa de um Mundaréu sem ilusões, onde todos se tornam reféns de um determinismo social que parece intransponível.



ALICE STEFÂNIA




Uma obra cênica é sempre um tecido coletivo, tramado e bordado a muitas mãos e afetos. Esse trabalho começou a se esboçar há cerca de pouco mais de um ano, quando a jovem Jordana entrou em contato comigo manifestando o interesse de seu grupo de teatro em vivenciar um processo provocado por mim. Assim, conheci a Companhia Dois Tempos, um coletivo de jovens atores amadores (como verdadeiramente pede o termo), com seus corpos, ideias e desejos fervilhando. Isso, por si só, quase sempre me seduz…

Mas havia mais, havia o universo de Plínio Marcos, no qual ainda não havia mergulhado artisticamente. Havia também princípios dramatúrgicos já contornados e uma pesquisa prévia sobre o universo a ser trabalhado. Reconheço-me como uma atriz que em suas criações exercita uma perspectiva composicional, e ainda como professora que provoca, orienta e até dirige, sempre colaborativamente e a partir de materiais gerados pelos próprios atores em exercícios de criação de suas dramaturgias corporais. A Companhia Dois Tempos me trouxe a oportunidade e o desafio de, pela primeira vez, experimentar o lugar de “diretora convidada”.


Ao longo de quase quatro meses de trabalho, os jovens atores Davi, Helena, Jordana, Miguel e Thiago demonstraram vontade, entrega, autonomia e responsabilidade no trabalho. Juntos, propusemos, compusemos, questionamos, criticamos, fomos criticados, comemoramos, nos frustramos, entramos em crise, construímos, duvidamos, adoecemos, nos benzemos, reconstruímos, enfim, imergimos no processo! A base dramatúrgica proposta inicialmente por Alexandre Ribondi, mexida e remexida por todos a partir das exigências do próprio fazer em processo, foi um ponto de partida fundamental. A presença parceira e o olhar atento de Fernando Santana proporcionou uma interlocução crítica e sensível durante todo o percurso. A escuta e disponibilidade de Guto Viscardi soube imprimir materialidade poética e funcional aos nossos desejos e necessidades de cenografia e figurino. Às equipes de música, luz, fotografia, cenotecnia e produção, enfim, a todos quero dizer que me sinto grata pela confiança e por nossos instantes criativos compartilhados. Obrigada!




PLíNIO MARCOS  


Plínio Marcos, foi engajado politicamente e teve intensa participação política, social e cultural no país. Seus textos se destacam pelo protesto e denúncias às formas da organização social. O espetáculo, preservando a poesia do dramaturgo, abre diálogo sobre temas importantes, atualmente muito discutidos. Os personagens representam usuários de crack, alcoólatras, traficantes, doentes, mães precoces, adolescentes esquecidos nas prisões, prostitutas e meninos de rua, esses que só se tornam visíveis, na destruição: quando agridem, roubam, traficam e matam.

A proposta é buscar, através do teatro, uma forma de alertar para a necessidade de crítica e denúncia. Num país, que tem como uma de suas principais características, a pluralidade cultural, Plinio Marcos traz para seus romances a dinamicidade das várias etnias, nichos sociais, credos, cores e linguagens, além de signos que atravessam a cultura popular brasileira. As personagens estão envolvidas nas adversidades sociais, mas possuem a riqueza de suas falas e expressões.



FICHA TÉCNICA:

Textos: Plínio Marcos
Adaptação: Alexandre Ribondi e o grupo
Direção: Alice Stefânia
Assistente de direção: Fernando Santana
Elenco: Davi MaiaHelena MirandaJordana Mascarenhas e Thiago Ramos
Direção Musical e ator convidado: Miguel Peixoto
Músicos: Letícia Fialho, Matheus Mikuym e Miguel Peixoto
Desenho de Luz: Abaetê Queiroz
Cenário e figurino: Guto Viscardi
Fotografia: Fernando Santana, Nathalia Azoubel e Thiago Barreto
Edição de Vídeo: Helena Miranda
Arte Gráfica: David Libal
Coordenação de produção: Jordana Mascarenhas
Produção executiva: Desvio Produções Culturais
Em parceria: grupo de pesquisa Poéticas do Corpo e Coletivo Teatro do Instante (http://poeticascorpo.blogspot.com.br/
Agradecimentos: 
Toda a equipe, Bia Medeiros, Carolina Curi, Cláudio Oliveira, Daniel Curi, Giselle Rodrigues, Grupo Tripé, Hugo Rodas, Inês Maria Mascarenhas, Izidório Mascarenhas, Joana Maria Mascarenhas, Marcelo Pires, Matheus Mikuym, Mônica Mello, Nelson Ramos, Paola Veiga, Rita de Almeida Castro, Teatro do Instante e Vilma Mesquita.
Patrocínio: Fundo de Apoio à Cultura - FAC

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ENSAIOS






















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