08/05/2014

A diretora


Há cerca de pouco mais de um ano a jovem Jordana, egressa do curso de Letras da UnB, entrou em contato comigo manifestando o interesse de seu grupo de teatro em vivenciar um processo provocado por práticas e poéticas atoriais como as que venho atuando no Departamento de Artes Cênicas da UnB. Assim, conheci a Cia. Dois Tempos, um coletivo de jovens atores amadores (como verdadeiramente pede o termo), com seus corpos, ideias e desejos fervilhando. Isso, por si só, quase sempre me seduz…



Mas havia mais. Havia o universo de Plínio Marcos, no qual ainda não havia mergulhado artisticamente. Havia também consistência de discurso, princípios dramatúrgicos bem contornados, uma pesquisa prévia sobre o universo a ser trabalhado e disposição para buscar suporte material para a concretização do trabalho. Por que não, pensei? Apesar de me reconhecer muito mais como uma atriz, que em suas criações exercita uma perspectiva composicional e concepcional, e ainda como uma professora que provoca, orienta e até dirige, mas sempre colaborativamente e a partir de materiais gerados pelos próprios atores em exercícios de criação de dramaturgias, enfim, apesar de ainda não me reconhecer completamente enquanto tal, aceitei o desafio de ser uma “diretora convidada”.


Uma obra cênica é sempre um tecido coletivo, tramado e bordado a muitas mãos e sensibilidades. Neste momento, sinto-me grata pela confiança e por compartilharmos esses últimos meses de encontros criativos. Davi, Helena, Jordana, Miguel e Thiago, os cinco atores, apesar da pouca idade e experiência, demonstraram vontade, entrega e responsabilidade no trabalho. Juntos, propusemos, compusemos, questionamos, criticamos, fomos criticados, comemoramos, nos frustramos, entramos em crise, construímos, duvidamos, adoecemos, nos benzemos, reconstruímos, enfim, imergimos no processo! A base dramatúrgica proposta inicialmente por Ribondi, mexida e remexida por todos a partir das exigências do próprio fazer em processo, foi um ponto de partida fundamental. A presença parceira e o olhar atento de Fernando Santana proporcionou uma interlocução crítica e sensível durante todo o percurso. A escuta e disponibilidade de Guto Viscardi garantiu materialidade poética e funcional aos nossos desejos e necessidades de cenografia e figurino. As equipes de música, luz, fotografia, cenotecnia e produção, enfim, a todos carinho e gratidão pelo criar compartilhado!

Em estreias, quando o trabalho tem que estar “pronto”, sempre sinto que ainda não está... Poderíamos ter mais tempo, isso repercutiria em maior precisão, força de atuação, emergência de novos sentidos e composições. Entretanto, agora é hora de mostrar e deixar que o fluxo das apresentações e as trocas vibráteis entre nossos corpos e os de vocês, espectadores, reverberem e imprimam novos contornos ao nosso trabalho. Obrigada!

- Alice Stefânia


Fotos: Natália Azoubel


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