Há cerca de pouco mais de um ano a
jovem Jordana, egressa do curso de Letras da UnB, entrou em contato comigo
manifestando o interesse de seu grupo de teatro em vivenciar um processo
provocado por práticas e poéticas atoriais como as que venho atuando no
Departamento de Artes Cênicas da UnB. Assim,
conheci a Cia. Dois Tempos, um coletivo de jovens atores amadores (como
verdadeiramente pede o termo), com seus corpos, ideias e desejos fervilhando.
Isso, por si só, quase sempre me seduz…
Mas havia mais. Havia o universo de
Plínio Marcos, no qual ainda não havia mergulhado artisticamente. Havia também
consistência de discurso, princípios dramatúrgicos bem contornados, uma
pesquisa prévia sobre o universo a ser trabalhado e disposição para buscar
suporte material para a concretização do trabalho. Por que não, pensei? Apesar
de me reconhecer muito mais como uma atriz, que em suas criações exercita uma perspectiva
composicional e concepcional, e ainda como uma professora que provoca, orienta
e até dirige, mas sempre colaborativamente e a partir de materiais gerados
pelos próprios atores em exercícios de criação de dramaturgias, enfim,
apesar de ainda não me reconhecer completamente enquanto tal, aceitei o desafio
de ser uma “diretora convidada”.
Uma obra cênica é sempre um tecido
coletivo, tramado e bordado a muitas mãos e sensibilidades. Neste momento,
sinto-me grata pela confiança e por compartilharmos esses últimos meses de
encontros criativos. Davi, Helena, Jordana, Miguel e Thiago, os cinco atores, apesar da pouca idade e experiência,
demonstraram vontade, entrega e responsabilidade no trabalho. Juntos,
propusemos, compusemos, questionamos, criticamos, fomos criticados,
comemoramos, nos frustramos, entramos em crise, construímos, duvidamos, adoecemos, nos benzemos, reconstruímos, enfim, imergimos no processo! A base dramatúrgica proposta
inicialmente por Ribondi, mexida e remexida por todos a partir das exigências
do próprio fazer em processo, foi um ponto de partida fundamental. A presença
parceira e o olhar atento de Fernando Santana proporcionou uma interlocução crítica e sensível durante todo o percurso. A escuta e disponibilidade de Guto Viscardi
garantiu materialidade poética e funcional aos nossos desejos e necessidades de
cenografia e figurino. As equipes de música, luz, fotografia, cenotecnia e
produção, enfim, a todos carinho e gratidão pelo criar compartilhado!
Em estreias, quando
o trabalho tem que estar “pronto”, sempre sinto que ainda não está...
Poderíamos ter mais tempo, isso repercutiria em maior precisão, força de atuação,
emergência de novos sentidos e composições. Entretanto, agora é hora
de mostrar e deixar que o fluxo das apresentações e as trocas vibráteis entre
nossos corpos e os de vocês, espectadores, reverberem e imprimam novos
contornos ao nosso trabalho. Obrigada!
- Alice Stefânia
Fotos: Natália Azoubel
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